quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O veneno da madrugada - García Márquez

"[...] 'Terça-feira, quatro de outubro', pensou; e disse em voz baixa:
- São Francisco de Assis.
Vestiu-se sem se lavar e sem rezar. Era um homem grande, sanguíneo, com uma pacífica figura de boi manso, e movia-se como um boi, com gestos densos e tristes. Depois de endireitar os botões da batina, com a lânguida atenção de dedos que experimentam as cordas de uma harpa, puxou a tranca e abriu a porta do pátio. Sob a chuva, os nardos lhe fizeram recordar as palavras de uma canção.
- 'O mar crescerá com as minhas lágrimas'- suspirou."

Impressionante como García Marquez consegue ser impecável na harmonia das palavras. Todos os começos dos seus livros me causam um alvoroço profundo e sensações tão impactantes, que em um segundo já me teletransportei pra dentro da carne e dos ossos da narrativa. Me dá aquela ânsia incurável de querer saber quem é esse personagem, como ele vive, o que faz, quem ama... ou melhor que isso, em uma só frase já construí sua vida inteira com minha imaginação.
A verdade é que ler me arranca do mundo desde criança, e nem de longe é algo que eu faça antes de dormir quando estou sem sono. Mas alguns autores parecem até conversar com a gente; é o verdadeiro regojizo da alma.


2 comentários:

  1. Gabito simplesmente sensacional! Sem mais. Sensacional... Parabéns pela postagem e blog! Com tempo, venha ler e comentar o http://jefhcardoso.blogspot.com/

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